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16.1.07

Catarina Chagas

Bom, como eu ia dizendo, após um passeio de carrão pela cidade, cheguei à Igreja de São José bem mais tranqüila do que eu mesma esperava. Minha mãe saiu para agitar as coisas e eu, quietinha e obediente que sou, fiquei esperando o fotógrafo. Porque noiva é assim: tem que posar para entrar no carro, sair do carro, colocar vestido e todos os passos que der.

Vi meu pai com a careca suada, coitadinho, que a essa altura do campeonato já está sofrendo de novo o inverno espanhol. Vi meu irmão pequeno e meu primo homenzinhos, as daminhas mais lindas da face da terra e um monte de convidados atrasados correndo para entrar na igreja antes que tudo começasse. Eu avisei que chegaria na hora, mas algumas pessoas custaram a acreditar, então tiveram que correr, mesmo, o que pode ser um problema para quem está de salto agulha.

Depois que me permitiram descer do carro, fiquei em pé, escondida atrás da porta, um tempão. E ouvia as músicas e via as pessoas por uma frestinha, morta de vontade de estar lá dentro e participar de tudo isso, mas naquele momento eu só podia esperar, e foi o que fiz. Pareceram horas. Eu cantava para passar o tempo, sorria para os atrasados e para os que estavam em pé no fundo da igreja e já tinham me visto, acabando com toda surpresa da entrada da noiva.

Daí apareceu a enrolada cerimonialista da igreja, uma senhorinha de muitos anos que deveria mandar em todo mundo. E ela colocou os sinos que eu não queria, mas na hora não havia nada que eu pudesse fazer. Enquanto eu ainda pensava que sinos gravados de igreja não são coisa que se cheire, ouvi o primeiro acorde da minha música e fiquei feliz, tão feliz que nem cabia dentro de mim. As portas se abriram e eu tinha planos de entrar cantando, mas na hora eu só conseguia abrir a boca para sorrir.

Então eu assumi o meu sorriso e fui assim até lá na frente. Eu queria olhar o Rafael, mas tinha tanta gente amiga e conhecida e eu pensei que, como olharia para ele a noite inteira mesmo, não haveria problema em olhar um pouquinho para os outros. Vi amigos de longe, de perto, gente que veio de outros países, gente que eu não via há muitos anos, gente que eu vejo todo dia, gente que não acabava mais. Nem sei se consegui ver todo mundo, até hoje acho que não.

Só sei que cheguei lá no altar e tinha um noivo tão lindo esperando por mim que parecia mentira, e parecia que não era eu. Frei Julio ainda não estava no lugar dele, quem o conhece sabe por quê. Mas entrou rapidinho com cara de afobado e tratou de ligar o microfone e dizer “boa noite” com seu velho sotaque espanhol. Fui entregar o buquê para a minha mãe segurar, meu pai se adiantou para fazer uma gentileza e quase derrubou o coitado no chão, mas isso não aconteceu, então ficou tudo bem.

A cerimônia começou de vez e eu me comportei tão bem que nem eu acreditei. Acho que chorei tudo que tinha pra chorar antes do casamento, treinando a hora de dizer que eu aceitava o Rafael na alegria e na tristeza e em todas essas situações da vida, então na hora eu já estava escolada no assunto [Atenção, noivas, esse é o truque: treinem bastante]. Acho que rezei menos do que devia, mas tanta coisa passava pela minha cabeça! Eu não me concentrava direito todo o tempo, e ficava repetindo na minha cabeça que Deus só poderia ser muito bom mesmo para me fazer passar por tudo isso.

Lembro da cara do frei Julio quando ele viu que não havia lugar para os noivos sentarem, foi como entendi que ele pretendia falar bastante. Mas na hora passou rapidinho e, apesar da enrolação, conseguimos trocar alianças e tudo mais, “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. O padre disse que éramos corajosos. E fico pensando que, nesses tempos de relações descartáveis e casamentos abertos, prometer amor e fidelidade a uma pessoa só para o resto da vida deve ser uma loucura mesmo.

Eu tinha medo. Naquele momento, eu queria, sabia, sentia, amava, mas tinha medo também. Então algum raciocínio maluco me mostrou que tudo bem as pernas tremerem um pouquinho, se a gente decide que o que se vai fazer é mais importante do que isso. Fiz. Sem gaguejar.

Estaria tudo lindo, romântico e digno de filme da Disney não fossem as gotas de suor que escorriam sobre nós dois. Putz, eu nunca havia notado que as noites do finalzinho da primavera eram tão quentes. Algo me diz que as luzes e as várias camadas de tecido que me vestiam contribuíram para isso. Não sei se todo mundo estava sentindo o mesmo, mas fazia uns quarenta graus embaixo do meu vestido.

Quem sabe a Cinderela também não suava sob aquela roupa que mudava de cor? Ou era a Bela Adormecida? Sei lá, desenhos animados não suam, mas suariam, se fossem de verdade. Então empatamos. Aquela era a minha noite e eu não sou mulher de deixar um pouquinho de suor atrapalhar, então fui em frente, o que, nesse caso, significava ficar paradinha e me agüentar em pé até o final da cerimônia.

Não demorou muito e o frei Julio já estava mandando a gente se beijar, e tinham palmas, pétalas e tudo mais (levei um susto quando aquilo começou a cair, tinha esquecido completamente dessa parte). Ele esqueceu a bênção, tudo bem, acho que Deus estava lá e abençoou mesmo assim. Mas, por via das dúvidas, lembrei a ele que tínhamos que assinar os papéis.

Estava na hora de descer e eu pedi para meu recém-marido me ajudar a não tropeçar naquele vestido enorme, então correu tudo conforme o figurino. Pausa para foto, arrumamos as crianças – que pisaram no meu vestido várias vezes durante a saída –, sorrimos mais um pouquinho e fomos embora. Vimos todas aquelas carinhas amigas de novo, algumas lágrimas também. E dessa vez conseguimos cantar.

Isso, é claro, até cair a chuva de arroz. Nesse momento fechamos a boca, porque estávamos guardando espaço na barriga para as comidas da festa. [Mais tarde, no hotel, quando tirei o vestido, vi que dava para preparar um risoto para duas pessoas com o arroz que tinha ficado grudado em mim.]

Tudo foi muito feliz e queríamos muito falar com todo mundo, agradecer o momento tão bom que os nossos amigos e a nossa família nos fizeram passar. Estávamos crentes de que haveria uma fila de cumprimentos, mas a tal senhorinha da igreja não organizou nada e começou a gerar uma confusão, o que fez o fotógrafo enfiar a gente no carro e ser levado meio às pressas, como numa fuga planejadíssima.

Sinto não ter cumprimentado algumas pessoas que só foram à igreja, em especial a minha bisavó, já conhecida de vocês, uma das minhas tias e as meninas queridas da chuva de arroz. E talvez outras pessoas que eu nem tenha visto. Nossa fuga não permitiu. Espero que elas saibam, mesmo assim, o quanto sua presença significou para nós.

Por Catarina Chagas




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